Para começar, é importante as pessoas da cidade estarem cientes de que o comprimento dessa cerca planejada para o Areão será de 3.000 metros. Este comprimento equivale à distância entre a Caixa Econômica Federal e a Delegacia no bairro Baú. Isso, por si só, já coloca muita gente para refletir sobre a real necessidade deste empreendimento. Como está a manutenção das outras estruturas já existentes na cidade, tais como praças, escadões, calçadas, gramados, veículos de serviço, prédios públicos, escolas, etc?

As cercas serão danificadas

Fogo

Nos locais onde a cerca passará existe muito capim de porte alto que no inverno seca e se transforma em palhada para queimadas. Todos os anos, vemos queimadas de capins em vários pontos da cidade. As operações de roçagem de capins dentro do município são insuficientes em quantidade (frequência e cobertura de locais) e realizadas de modo parcial, pois os capins muitas vezes não são removidos das áreas após os serviços. É muito comum deixarem o capim roçado no mesmo local e transeuntes atearem fogo no capim seco já roçado.

Serão instalados dois tipos de cercas, a de modelo Nylofor possui pintura e presilhas plásticas. Acredito que serão danificadas pelo fogo em pouco tempo após instaladas. A prefeitura pode alegar que fará o aceiro no entorno da cerca, mas não acredito que isso se manterá no longo prazo, a cerca acabará danificada.

Vandalismo e roubo

A cerca de modelo Nylofor é montada por parafusos e feita de grades finas, possuem valor elevado e serão instaladas em alguns locais pouco movimentados ou até mesmo isolados, por exemplo no local da obra inacabada onde seria criado o memorial do aço. Há grandes chances de serem roubadas ou vandalizadas. Além disso, o outro modelo de cerca será construído com tela de alambrado (2 metros de altura) e 4 fios de arame farpado. Provavelmente haverá prejuízos com roubo de telas e arames pois ficarão instaladas também em locais pouco movimentados, caso dos fundos da rua Araxá no bairro de Lourdes.A prefeitura pode alegar que haverá câmeras de segurança, mas não acredito que será suficiente para evitar esses problemas.

Certa com alto valor e fácil remoção (furto).

Deficiência em serviços urbanos

Percebemos na cidade deficiências em vários tipos de serviços urbanos, por exemplo, manejo de vegetação em áreas verdes (roçadas e remoção de capins), manutenção de árvores (podas, adubação, eliminação de árvores mortas, plantios), manutenção de gramados (veja a quantidade de áreas sem grama nas praças), limpeza urbana (especialmente resíduos como pedriscos, areia, pó, escória), bueiros obstruídos, coleta e destinação adequada de alguns tipos de resíduos urbanos especiais tais como: restos vegetais, pequenos volumes de entulho, MDF, móveis, estofados, colchões, resíduos de oficinas mecânicas, eletrônicos, eletrodomésticos, etc. Até mesmo o volume coletado de materiais recicláveis ainda é baixo, temos muito a expandir na coleta de recicláveis. Portando, dentro do espectro de gerenciamento urbano, temos várias questões mais elementares e prioritárias que ainda carecem de soluções concretas. Parece-me que a prefeitura deveria focar em melhorar na manutenção e correção dos problemas já existentes (e há muito tempo pendentes) ao invés de criar mais estruturas (cercas, guaritas e portões) que demandarão ainda mais manutenções.

Descarte irregular de resíduos

Tenho visto na mídia local que o principal argumento para se construir a cerca e guaritas é afastar o problema do descarte irregular de resíduos na área do Areão. Esta ação apenas transferirá o volume de resíduos para outros locais viciados da cidade. O que precisamos, na verdade, é de ações voltadas para minimizar esses descartes irregulares e que sejam abrangentes para toda a cidade. Tenho apontado duas ações que podem ajudar muito nisso: a criação de pontos para entrega de resíduos urbanos, os chamados “Ecopontos” e a implantação de serviço de caminhão “Cata-trecos” para coleta desses tipos de resíduos nos bairros (pelo menos uma vez por mês em cada bairro). O dimensionamento da quantidade de ecopontos geralmente é de um ecoponto para cada 20.000 habitantes, no mínimo. Acredito que se existissem esses serviços implantados na cidade, com uma comunicação permanentemente ativa (rádio comunitária, jornais, outdoors, moto de som, panfletos, mídias digitais) provavelmente não estaríamos falando em cercar o Areão.



Exemplo de Ecoponto

Mirantes do satélite

A lateral oeste do Satélite de cima possui grande beleza natural e paisagística. É um mirante de vista panorâmica da cidade onde as pessoas costumam contemplar o pôr do sol. Com a instalação da cerca de 2 metros de altura ao longo de toda a lateral do morro, a beleza visual dos mirantes será bastante prejudicada. Estive visitando o local nas últimas 3 semanas, perguntei para mais de 25 pessoas se sabiam que seria instalada uma cerca no local e a maioria não estava sabendo, muitos têm se mostrado contrários à proposta de instalação da cerca.

Considero que este espaço dos mirantes e pracinhas deveria receber maior atenção da administração municipal com ações de manejo e combate das vegetações de crescimento agressivo (capins e margaridões), remoção de restos vegetais, pedras, resíduos urbanos, etc. Penso também que o local é apropriado para o plantio de gramados na parte superior e também na parte alta da encosta do morro com adequação da jardinagem e arborização (fotos em anexo). As pracinhas também poderiam ser revitalizadas com participação da comunidade.

Segurança

Concordo que o cercamento poderia promover maior segurança, mas penso que neste quesito é fundamental primeiramente implantar um programa de roçadas dos capins, remoção de todo o enorme acúmulo de galhos, troncos e restos vegetais mortos, eliminar várias árvores exóticas (não nativas do Brasil) para maior arejamento do interior da mata. Criar no parque um ambiente com mais características de bosque ao invés de matagal. O meu olhar sobre o Areão é mais no sentido de um parque urbano do que um parque “ecológico”, como costumam denomina-lo.  Vejo o Areão com vários espaços de gramados amplos e árvores grandes distanciadas umas das outras (fotos em anexo). Com estas ações implantadas somadas à criação de estruturas e atividades atrativas que aumentem a circulação de pessoas na área, a questão da segurança poderia ser melhorada significativamente mesmo sem a instalação de cercas e guaritas.

Guaritas

Importante destacar que as pessoas da cidade ainda não estão devidamente informadas sobre o regime de funcionamento das guaritas. Parece-me que os jornais locais ainda não divulgaramnada sobre isso. As guaritas funcionarão 24 horas? Haverá vigilantes em 3 turnos? Os portões ficarão abertos ao longo de toda a noite ou fecharão às 22 horas? Qual será a utilidade dos portões? No desenho do projeto está prevista a construção de 4 guaritas, sendo uma delas localizada na área do centro universitário (onde seria o memorial do aço).

Cercamento da área onde seria o memorial do aço para uso como centro de extensão universitária

Considero inviável utilizar esta área para esta finalidade devido à precariedade de estrutura do local (estrada de acesso no entorno, local muito distante do centro com poucos horários de ônibus, sistema de drenagem pluvial, segurança da edificação contra vandalismo e roubo, gastos adicionais para concluir a obra, que por fim será uma edificação adaptada. Não foi divulgado como esta área será utilizada no dia a dia, qual universidade será a parceira, como será a rotina de trabalho dos estudantes, o que se espera dos trabalhos e projetos que eles executarão.
Me parece que nossa governança municipal (prefeitura e câmara) deveriam, em conjunto, avaliar a possibilidade de desmanchar aquela obra e assim evitar que apareçam outras ideias mirabolantes de uso daquele local. Não me parece ser um local adequado para manter uma edificação em funcionamento. Resumindo, a ideia de construir um memorial naquele local, a meu ver, foi muito equivocada. O custo apenas da cerca, guarita e portão que a prefeitura projeta instalar lá parece passar de R$ 350.000. No projeto, está previsto 545 metros do modelo de cerca Nylofor (custo mais elevado) neste local.

Memorial do Aço – Local atualmente abandonado e depredado por vandalismo

Unidade de Conservação Ambiental ou Parque Urbano?

A proposta de construção de uma Unidade de Conservação Ambiental no miolo da cidade, a meu ver, é uma ideia muito contrastante com a realidade do funcionamento da cidade. O conflito entre os dois espaços já nasce com a necessidade de instalação da cerca dividindo os dois ambientes. Penso que isso não será sustentável no tempo. Sei que foi feito um estudo por uma empresa especializada, tive acesso ao documento que eles elaboraram (Plano de Manejo), li boa parte deste documento e não acredito ser viável considerando a realidade da cidade. As propostas que constam no plano de manejo se apresentam muito complexas, avançadas e de alto custo. Não vejo capacidade técnica e financeira no município para executar o que está sendo proposto. Parece-me que seria melhor buscar para o Areão uma proposta de utilização mais harmonizada com o ambiente urbano, sem cercas, com menos adensamento de vegetação viva e sem excesso de restos vegetais mortos.

Unidade de conservação ambiental ou um parque urbano?

Recomento a todos para baixarem e lerem o Plano de Manejo (especialmente as páginas 180 a 230) neste link: PDF https://bit.ly/planoareao

Manutenção da cerca

O valor do investimento para construção desta cerca não é baixo. Serão 2,5 milhões entre cercas, guaritas e portões.

É preciso pensar no aspecto visual desta cerca daqui a 5 ou 10 anos, como estará o seu estado de conservação? Qual será o grau de danos por vandalismo após este tempo? Equipamentos urbanos demandam gastos com manutenção e trocas com o passar do tempo, é bom avaliar isso.




Jornal A Notícia – Protesto contra cercamento do Parque

https://anoticiaregional.com.br/noticia.php?id=21592%2FProtesto-contra-cercamento-do-Parque


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